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Cafeína no sangue

02/08/2016

 

A revista Agro DBO traz em sua edição de julho a reportagem “Cafeína no sangue” que descreve a retomada do crescimento da cafeicultura de Rondônia, que muitos ainda não conhecem.

A revista Agro DBO traz em sua edição de julho a reportagem “Cafeína no sangue” que descreve a retomada do crescimento da cafeicultura de Rondônia, que muitos ainda não conhecem. Este crescimento se baseia principalmente em renovação de lavouras (usando clones) e mecanização, com a sustentabilidade como parte deste processo. A EMATER-RO, parceira da Plataforma Global do Café (coordenada pela P&A no Brasil), que já tem mais de 128 técnicos capacitados no Currículo de Sustentabilidade do Café (CSC), é uma das responsáveis por esse sucesso. Vale a pena a leitura.

 

Cafeína no sangue

Agro DBO vai à Rondônia conferir o estágio de desenvolvimento da cafeicultura local, impulsionada por programas de fomento, introdução de novas tecnologias e mecanização da lavoura. 

Rogério F. Furtado

As raízes familiares de Sérgio Kalk ficaram perdidas às margens do Báltico, na antiga Pomerânia, região fria da Europa onde só um milagre produziria café. Mas Kalk está enraizado em Cacoal, Rondônia, terra quente. E diz para quem quiser ouvir: “Tenho cafeína até no sangue”. Deve ter mesmo. Bom produtor, colhe de 80 a 90 sacas por hectare a cada ano, sem irrigação, produtividade quatro vezes superior à esquálida média estadual. E como os famosos granadeiros pomeranos de tempos passados, está em uma linha de frente: a da renovação da cafeicultura no estado,  movimento que promete fazer Rondônia melhorar muito sua posição no ranking das regiões produtoras do país.

A safra surpreenderá neste ano, prevê o agrônomo Janderson Rodrigues Dalazen. A colheita, agora na reta final, ganhará da prevista pela Conab em maio por cerca de  400 mil sacas de vantagem. Serão pelo menos 2 milhões de sacas no total. É certo que a escassez de chuvas na fase de granação diminuiu o tamanho dos grãos. Mas esse efeito será contrabalançado pelos frutos de cafezais novos que entraram em produção.

Dalazen também sustenta  que a safra de 2020 renderá no mínimo 4 milhões de sacas. Não se trata de miragem. Como gerente técnico da Emater-RO, ele tem percorrido as áreas cafeeiras do estado repetidas vezes desde o ano passado, constatando a implantação de lavouras clonais de alta produtividade em ritmo veloz, em substituição a cafezais envelhecidos, formados a partir de sementes. Como decorrência, os 45 produtores de mudas credenciados no estado estão com seus estoques zerados e ampliam seus viveiros.

A revolução da cafeicultura rondoniense é recente e foi deflagrada a partir do momento em que a administração estadual se deu conta da necessidade de estimular a atividade para alavancar a economia, engordar a receita tributária e conter o êxodo rural. Um marco do movimento foi a reativação da Câmara Setorial do Café em 2013, que permanecia letárgica desde sua criação, em 2000. O presidente agora é Ezequias Braz da Silva Neto, que todo mundo conhece como Tuta. Vindo do Paraná e baseado em Cacoal há 40 anos, Tuta é comerciante de café e garante que a área ocupada pela cafeicultura – 97 mil hectares – poderá ser triplicada sem que seja necessário derrubar mais uma única árvore no estado.

Há muita terra desmatada, desde a colonização empreendida na segunda metade do século passado. E Tuta está convicto de que a arrancada do café rondoniense é incontrastável. Opinião compartilhada pelos demais membros do órgão consultivo que preside: ninguém ignora o interesse dos grupos transnacionais do café e das empresas de solúvel em diversificar suas fontes de suprimento, principalmente depois da frustração de safras de conilon no leste brasileiro. A cotação inédita do café rondoniense, na faixa de R$ 370/saca em fins de maio último, revela a pressão da demanda.

A descoberta do robusta

Como em qualquer negócio, bons preços pulverizam obstáculos e sacodem a inércia dos retardatários, enquanto os vanguardistas saboreiam os resultados dos esforços despendidos ao longo de anos. É o caso de Sérgio Kalk, cuja trajetória de vida sob a estufa amazônica tem muitos pontos em comum com a de outros produtores locais, vindos de diversas partes do país. Os pais de Sérgio deixaram Vila Pavão (ES) em 1982, quando ele tinha 5 anos, comprando a propriedade familiar de 17 hectares em Cacoal. “Passamos por fases difíceis, com produtividade e preços em baixa. Muitos desanimaram. Nós também. Tentamos produzir leite, apanhamos demais e voltamos a mexer com o café, a única coisa que sabemos fazer”.

Então descobriram o robusta, variedade de café canéfora, espécie à qual pertence o conilon, introduzida pela Embrapa no estado na década de 1980. “Com meu pai, já falecido, plantei 12 mil covas de conilon e duas mil de robusta em 1998. E a lavoura de robusta produziu mais que os 12 mil pés de conilon. Mas o robusta, de alto rendimento, é mesmo rústico, bruto. Se vamos arrancar uma lavoura de conilon, a retroescavadora ‘vai de boa’. Quando chega em um pé de robusta, ‘fumaceia’, de tão enraizada a planta está. Fora isso, o robusta dá roseta dura e afiada. 

Na colheita, não há luva que aguente”. Por sorte, a mãe natureza foi benfazeja: providenciou o cruzamento espontâneo entre o robusta e o conilon, com a geração de híbridos de qualidades excepcionais – mais “mansos”, mas tão produtivos quanto o robusta.

Atento às características das novas plantas, Sérgio Kalk, iniciou um processo de seleção de matrizes com maturação de frutos mais uniforme, e maior resistência à seca e às doenças. Terminou por formar um jardim clonal, em 2007. Ele prossegue: “Nesse ano, Wesley Gama, técnico agrícola da Emater, veio para ajudar na seleção de clones. O Wesley sempre trouxe novidades. E eu assisti a todas as palestras técnicas que pude. Aprendemos muito juntos. Assim, também me tornei produtor de mudas em 2012, com viveiro nesta propriedade de 19 hectares, herdada por minha esposa, Ludineia. Um de meus clientes, com irrigação, já colheu até 140 sacas por hectare”. Com tal nível de produtividade, os cafeicultores rondonienses, de maneira geral, agora descartam o conilon.

Com os híbridos que produz, Sérgio Kalk renovou todos os cafezais da propriedade original da família, agora tocada por seu irmão, André. E no sítio onde mora, faltam apenas 5 hectares para completar a renovação, processo que se intensifica no estado: alguns produtores plantam mesmo fora de época, com irrigação. Os interessados em cultivar conilon têm à disposição a cultivar BRS Ouro Preto, que começou a ser trabalhada pela Embrapa em 1994. De acordo com o agrônomo João Maria Diocleciano, analista da empresa, baseado em Ouro Preto D’Oeste, trata-se de cultivar composta por 15 clones, desenvolvida para as condições de sequeiro que, a depender do manejo, pode produzir até 140 sacas/ha/ano. Mas, em vista da nítida preferência dos produtores pelos híbridos de robusta/conilon, a estatal resolveu direcionar seus esforços de pesquisa nessa direção. “Os produtores selecionaram muito bem os materiais em uso, com excelente produtividade.

Mas o número de clones é reduzido. O estreitamento da base genética é motivo de preocupação para nós. Estamos buscando híbridos para trabalhar junto com os cafeicultores.

Acesse: www.portaldbo.com.br/Agro-DBO/Chamadas/Cafeina-no-sangue/17160 (acesse o anexo abaixo da reportagem para ler na íntegra).